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A mostrar mensagens de março, 2014
Não sabia o nome dele. Sabia que era muito educado, simpático, com duas filhas ainda pequenas. Falamos algumas vezes. Da última disse-me com entusiasmo que sentia uma força vinda não sabia de onde. E todo ele brilhava, apesar dos gestos acusarem as tremuras de um tumor que lhe crescia no cérebro. Falava sem rodeios do cancro. Dizer o nome do inimigo é mostrar-lhe que não temos medo dele, parece-me . Idas e vindas do hospital. Ontem faleceu. E eu saí de casa a pensar que nem sequer sei o nome dele, que foi meu vizinho durante onze anos. Se fosse meu amigo do facebook sabia, lembrava-me a consciência irónica que volta e meia me atazana. Ao regressar a casa vi no vidro de entrada do prédio a comunicação do falecimento, e respetivas exéquias. Agora já sei o seu nome. Que descanse em paz.

I teach

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  Ouvi alguém dizer por aí que um professor deve ser profissional e que a partir do momento em que surgem os afetos perde-se a objetividade e deixam de separar-se as águas. Tudo bem que professor é professor e aluno é aluno, mesmo que muitas vezes seja eu quem está do lado dos que aprendem. Aprendo muito com os meus alunos. Com o que eles sabem, com os desafios que me lançam quando não querem saber o que tenho que lhes ensinar, com o que que me ensinam a ser (e a não ser também). E gosto deles e do que faço, mesmo quando sinto que precisava de mais tempo para ler outros livros, procurar mais vídeos, cuscar aquelas curiosidades que permitem aguçar o interesse deles para procurarem o conhecimento pelos próprios meios. Gosto deles e não sou de disfarçar. Ralho se tiver que o fazer, elogio sempre que posso. Não lhes ponho a fasquia demasiadamente elevada, mas também gosto de lhes tirar o tapete e de os ver a improvisar, e criar, a largar a navegação segura, agarrada à repe
Ontem, em pleno Porto de Magia, ouvi esta música, e só aí percebi que o meu encanto por caixas de música, por muito que estivesse ligado à caixa da minha mãe, que se olhava sem mexer para não estragar, vinha sobretudo daqui. Deste objeto qu e vivia na sala dos meus avós paternos, uma sala nunca usada e onde eu ia só para por isto a rodar e ficar parada, encantada pela música e pelo movimento. Não sei para que é que isto serve, nunca o vi a ser utilizado. Na altura das mudanças, veio para minha casa. E aqui está, no móvel das recordações que hoje partilho. https://www.facebook.com/photo.php?v=10203709807009554&l=3009631698508104926
-Então quais eram as obrigações dos muçulmanos? Resposta pronta: "Ir ao Meco pelo menos uma vez na vida."
Às vezes lembro-me das crianças que fomos encontrando nos vários internamentos da Sofia. A Vanessa que nunca vi, sempre para lá do cortinado, alimentada por sonda, aspirada, sem ter quem a visitasse nem lar que a acolhesse. Tinha pais, mas não a iam visitar há algum tempo. O menino que não dormia e cuja mãe passava as noites a passear no corredor. Gostava de livros e ficava parado a ouvir-me falar . Eu lá ia dizendo à mãe que falasse com o seu menino. Ele ouvia, ele percebia porque tinha reações. Mesmo quando o efeito da medicação era evidente. De Vila Real, o pai só vinha ao fim de semana. A mãe estava com ele todos os dias. Esse pai que ficava surpreendido pela mãe de outro menino o deixar na cama e ir para a rua. "Está lá fora a falar com os carros"- dizia surpreendido. Parecia recusar-se a ver o que ela estava de facto a fazer. Depois havia uma menina que estava com a avó. Adorava a irmã. Gritava ao ver a mãe. Não sei se era da mãe, se das guardas que fica
-O que significa urbano? Associam a quê? Ouço lá no fundo: -Barack? Barack Urbano?

Memórias

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  Tive a sorte de durante 5 anos ser a sobrinha em regime de exclusividade de 4 tios fantásticos. O mais velho era o mais intelectual! Foi com ele que conheci o Asterix ( eu ainda não sabia sequer ler) e a Mafalda,com quem aprendi palavras difíceis, mais tarde foi através dele que conheci Mia Couto ou Pepetela. Já na adolescência ficaram na memória umas férias em que assentamos arraiais em Vila Flor , e não houve castelo, vila ou monumento nos arredores que nos escapasse, devidamente enquadrados pelas estórias da História retiradas de um livrinho de capa verde. A seguir vinha o tio hiperativo e bem disposto. Desportista, muito bem humorado, era difícil chorar ao seu lado pois levava-me das lágrimas ao riso em segundos. Sabia montes de lengalengas ( do tipo " era uma vez uma vaca chamada vitória...", a do gato que tocava piano e falava francês, ou a rajada de perguntas " tens fome? Tens sede? Tens frio? Com as respostas respetivas), estava sempre a invent