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A mostrar mensagens de setembro, 2015
Confesso que sigo alguns desses blogues onde os pais falam dos filhos, das conquistas dos filhos, dos seus desafios, dos problemas. Fazem-nos sentir quase membros da família, sabemos os nomes dos miúdos, se entraram no conservatório ou andam no futebol, se têm ciúmes dos irmãos, que segredos trocam com a mãe. Não tem mal nenhum, pensaria eu. Não tem mal nenhum, diz uma das bloguers que costumo seguir e que cuja fluidez e boa disposição da escrita cativam facilmente (falo do b logue Coco na Fralda), tenho filhos bem resolvidos e há muito da nossa vida que fica fora do blogue. Acredito. Mas dei comigo a pensar: será que eu gostava que a minha mãe publicasse coisas minhas/nossas numa rede social? Será que eu gostava de chegar aos 15 anos e encontrar a história da minha vida nas redes sociais? Eu, que sempre gostei de registos, da história construída passo a passo nos livros do bebé que fiz para cada uma das filhas, eu que por vezes escrevo aqui mais do que devia, eu que muit
Salomão era um rei muito sábio. Um dia colocaram diante de si um bebé acompanhado por duas mulheres que se diziam sua mãe. Tentaram averiguar qual delas falava verdade, mas estava difícil chegar a um acordo. Foi então que o rei disse: - Cortem a criança ao meio e fica uma parte para cada uma. Uma das mulheres recuou horrorizada e implorou ao rei que não o fizesse, que entregasse o bebé à outra mulher. Então o rei disse para entregarem o bebé a essa mulher que tinha feito o tal pedido, pois era a mãe verdadeira. Foi nisto que pensei quando li o pedido da mãe síria de que, não podendo acolher as duas, salvassem a sua filha e a levassem para onde houvesse paz e a menina pudesse estudar. A notícia anda por aí, comentada parvamente por quem deve pensar que valores se reduzem ao que de material se possui, que uma mãe não abandona a filha, que a mãe é chantagista, que se aproveita da boa vontade dos cristãos... E por aí fora. Tenho muitas saudades daquele Portugal que se uniu

Coisas de mãe

Desde que chegou tem estado a contar como lhe correu o dia, a mostrar o trabalho que fez ao longo destes dias na sala de estudo, a falar de si e das amigas e às tantas atalha: -Ó mãe, às vezes estou a falar contigo e parece que estou a falar com a minha melhor amiga. -Bem, eu não sou a tua melhor amiga, sou tua mãe...- - Ó mãe, não sejas doutor Quintino! (Esta mais nova...)

Memórias de caloira

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Recordação do meu tempo de caloira! Uma mensagem da Madrinha Lígia, escrita no guardanapo de um café da baixa de Coimbra, no final da latada. Para os mais atentos, nesse ano as aulas começaram ligeiramente mais tarde. Mais especificamente, depois do Natal. Também havia fotos a partilhar mas a minha madrinha, que era de letras, devia andar fixada no auto da barca do inferno (ou isso ou tinha devaneios mefistofélicos) e eu estou a modos que um bocadinho enfeitada. A lembrar: alunos de uma faculdade não deve ter madrinhas de outra, sob pena de ficarem fadados a mudar de curso no ano seguinte.  

Também fugimos da guerra e da fome.

Há 46 anos, retrato de um povo sujo, sem maneiras, muito religioso, que em vez de defender o seu país fugia da guerra, pagando muito para depois viver na miséria dos bairros de lata. Há 45 anos, na França. Quem era esse povo? Os portugueses.   Aqui.
Cenas do episódio anterior... Reconquistando -se a terra perdida esta tornou-se pouca, apesar da falta de gente a povoá-la. Digamos que o pessoal se habituara aos treinos e os sofás na altura não eram confortáveis nem havia reality shows para entreter as hostes. E por isto, esta raça lusa, pura mistura de lusitanos, romanos, suevos, visogodos, muçulmanos , e outros mais que aqui não couberam porque a escritora também tem que fazer o jantar, resolveu invadir outras terras... A pedido de muitas famílias segue, mas atenção que não é fácil inspirar-me com debates eleitorais de música de fundo...   Mas que terras? Para onde ir? Fizeram-se cortes ( não são "córtes" mas "côrtes", aquelas reuniões loooooooongas onde entre uns morfos e umas piadas sobre padeiras que aviavam vizinhos também se opinava sobre política e falava das coisas da nação para o rei fingir que ouvia os súbditos- nada de novo, portanto) e um pacífico lusitano achou por bem intervi
Era uma vez os lusitanos que viviam em paz e sossego até chegarem os terroristas romanos, que os conquistaram, impuseram a paz pela força das armas e os ensinaram a falar uma língua horrorosa chamada latim, construíram estadas, pontes e aquedutos, trouxeram moeda, comércio, cidades com termas e coisas realmente violentas para quem vivia da pastorícia e dos assaltos. Mas depois vieram uns refugiados visogodos e suevos, empurrados pelos hunos terroristas sem pescoço que aqueciam carne crua entre as suas coxas e o lombo dos cavalos que permanentemente montavam para a comerem de seguida. Esse povos refugiados vinham misturados com uns terroristas que só queriam destruir tudo. Adeus romanos, ficou um bocadinho da língua, a religião cristã, uma ou outra construção mas as cidades foram-se e as pessoas tiveram que se virar para a agricultura protegidas pelas armas da nobreza e pelo Deus do clero, a troco de obrigações servis. Uma crise miserável, está visto. Pior, vieram os terr

A mão no ombro. A maçã.

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Praia- Agosto 1930 Em 1930 ainda não havia Estado Novo mas Salazar já estava há dois anos no poder como ministro das finanças. Um ano antes ocorrera o crash da bolsa de Nova Iorque, que levou à primeira grande crise do capitalismo. O meu avô tinha 16 anos, a minha avó treze (ou seriam 12?), e tiraram-lhes esta foto de uma ida à praia. Rostos fechados, que a moda do sorriso para a fotografia vinha longe e muito riso era sinal de pouco siso. Sempre achei que temos traços hebraicos, e no rosto de minha avó eles estão todos. Se calhar a vontade de sorrir seria pouca. Perdeu a mãe na infância, reagiu mal a um segundo casamento do pai que se vangloriava ter conseguido desfazer. Ao contrário das outras meninas da sua idade, cresceu ao balcão, comprava, vendia, fazia e desfazia. Era a "morgada", a mulher da casa e até ía com o pai à tourada.  Trabalhos domésticos nunca foram a sua praia. Já mulher adulta e avó, volta e meia deixava queimar o estrugido (porque às vezes perdia-se n