Avô Luciano
É
justo que eu fale do meu outro avô. O avô Luciano. Moreno, alto, cabelo
escuro meticulosamente penteado para trás ( com ajuda do petróleo olex-
ou seria restaurador?), dedos compridos, unhas bonitas,
rectangulares... Lembro-me de ser pequenita (5 anitos, talvez), no
primeiro de Janeiro, e ele virar-se para mim e dizer: "não nos víamos
desde o ano passado!" . E eu ficar a pensar " mas ainda ontem
estive aqui..."Depois de anos na Venezuela, dedicou-se a um café perto
da estação de Campanhã: o Café Capri. Recordo-me bem do cheiro a café,
dos rebuçados castanhos, estreitos ( de café? de canela? Nem sei...),
dos sugus de hortelã pimenta, das chicletes... De uma porta pequenina
que ficava junto ao balcão... Mas foram poucas as vezes que fui ao café.
Lembro-me, isso sim, do lado brincalhão do meu avô. Sempre a " penicar"
a minha avó, que lhe ía dizendo que estivesse quieto, da forma como
pegava nela ao colo, da piada como dizia as coisas, da sua energia.
Depois ficou doente. Mas o café depois de almoço era sagrado. O do Tone
da Esquina, claro. E no regresso, passava lá por casa para uma
amostrinha de aguardente. Teve cinco filhos muito diferentes, mas todos
fantásticos. E o humor pereirês, acho que é obra dele!
Comentários
Enviar um comentário
Também divagaram: