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A mostrar mensagens de abril, 2014

A propósito da Páscoa

Gosto do Natal, mas para mim a Páscoa é a essência do cristão. Mais do que o seu nascimento, Jesus destacou-se pela mensagem que transmitiu e que o levou à morte mas também à ressurreição. E aqui começam as contradições: amanhã ouviremos sinos e a mensagem "ressuscitou, aleluia!", ao mesmo tempo que nos dão a beijar uma cruz com Jesus na sua versão humana de mortal. Se calhar é para pensarmos naqueles de quem nos despedimos assim mas relativamente aos quais esperamos a vida eterna. Seja. Preferia uma cruz simples. Adiante. Por cá ainda há a tradição do compasso. Por causa disso a Páscoa há-de cheirar-me sempre à baunilha das amêndoas (que dantes o chocolate era só nos ovos), ao papel tostado do pão de ló e ao feno que à porta dava sinal de querer receber o compasso. No final do dia era esse o cheiro das ruas. Agora, em vez de feno há umas pétalas de rosa, quando as há. E os aromas são outros. Que fique sobretudo aquilo que a Páscoa deve ser: uma hipótese de renascer, de reno

@Trás-os-Montes

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  Ontem, depois das obrigações aquisitivas dos apêndices oculares filiais foi dia de mais uma incursão gastronómico-afetiva ao interior.  Começamos por Vila Real, para as miúdas verem os locais onde o pai cresceu e brincou até aos sete anos. D a casa resta o sítio pois houve um incêndio que comeu as paredes da dita. O jardim onde brincava é agora um parque infantil e um campo de jogos. A escola tornou-se num colégio. Mas a vista da Meia Laranja ainda é a mesma, se ignorarmos os prédios... E que vista!    Depois fomos para a Quinta da Petisqueira. Espaço acolhedor, equilibrado, cheio de relíquias, e naturalmente a boa mesa típica dos transmontanos. Mais um golpe na dieta... Mas daqueles que valem a pena. Não ficamos aqui, havia que fazer uma surpresa à avó. Estavam 27 graus em Água Revés. Encontramo-la sentada no pelourinho, a fazer o seu "tratamento de beleza", ou seja a apanhar um solzinho. A aldeia estava calma, devia andar tudo por casa entre f

Miopia e astigmatismo

Hoje é dia de comprar óculos! Consulta de rotina no oftalmologista trouxe a sentença. Astigmatismo na Bia, miopia e estigmatismo na Su. A genética é tramada, não há nada a fazer. Das muitas coisas que gostava de transmitir-lhes não constava a visão distorcida do mundo. No sentido literal, pelo menos.
Estava aqui a saborear umas tangerinas e pensei: apesar de não serem propriamente doces, sabem bem porque sabem ao antigamente. Ora aqui está um antigamente que de facto era melhor do que o atual. O sabor das coisas. Do pão cozido no forno a lenha, da carne que não mingava à velocidade da luz na frigideira, das batatas fritas amarelinhas, da fruta que sabia a fruta mesmo que por vezes trouxesse hospedeiro desalojado a contragosto. Dizem que as coisas dantes sabiam melhor porque havia menos. Será. Mas que os sabores se perderam, se plastificaram com tanta massificação é uma realidade. E contudo, por outro lado, sou incapaz de comer galinha caseira. Mas isso é por outras razões.

@ Braga

Agora que as aulas/reuniões/ relatórios e afins pararam vou poder descansar e fazer uma dieta(zinha) que aqui o michelin anda a insuflar a olhos vistos, pensei. Certo? Não, errado! Ontem fomos passear para Braga. Queria mostrar a Sé às miúdas, e aproveitar para ver a cidade nesta semana santa. Senti-me quase estrangeira, dada a diversidade de línguas que se ouviam nas ruas. Na universidade estava uma exposição interessante sobre os 40 anos de Abril, com capas de jornais da época, e os cartazes comemorativos. Ficou-me uma frase julgo que de Carmona afirmando que a ideia de que a sociedade portuguesa não estava preparada para viver a democracia era um mito. Quarenta anos depois o comentário a esta frase dava uma boa pergunta num teste. Adiante. Ah, o Michelin. Pois almoçamos no Silvas. O sítio em si não tem nada de especial ou típico. Num centro comercial, balcão corrido, em U, no centro o Sr. Silva e funcionários. E aqui começa a desgraça. Ainda estava a sentar-me e já l

Noé para ver

Lá fomos ver o Noé. E não me parece que volte a ver o filme. História que pouco tem a ver com a Bíblia, roupa do século XX, mas em versão alinhavada ou então gasta, unhas sujas (pormenor de época), dentes como pérolas reluzentes, cabelo da Hermione com umas riças, já o da matriarca sempre impecável (aliás o Noe envelhece, a esposa não), calhaus tipo Transformers a protegerem a arca (gostei destes, é verdade, uns fofos), e nos finalmentes, depois de salvar apenas a sua família Noé termina dizendo às netas gémeas: crescei e multiplicai-vos! Era para rir? Ou bem que faziam um filme todo a dar para a metáfora ( e não citavam a Bíblia e falavam de Deus a cada cinco minutos), ou então seguiam a Bíblia. Assim nem é carne nem peixe, desenganem-se. E eu que até gosto do Russel Crowe. ( e o avô Matusalém Hopkins com desejos de bagas? Enfim...)

Dúvidas

As coisas que se dão a conhecer, seja num post de uma rede social, seja numa parede, num jornal ou numa lápide funerária, deixam de ser íntimas para serem públicas, porque do domínio público, ou compete a quem lê separar as águas e perceber o que é de um domínio e o que é do outro?

Mimos

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Perfume

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  Primeiro era leve e ténue e quase imperceptível. Como uma brisa perfumada, talvez. Depois foi aparecendo mais forte mas ainda pouco persistente. Ia, vinha, e esqueciam-se dela os que com ela se incomodavam. Um dia, tornou-se vendaval, inund ou tudo e todos. Uns, aflitos, gritavam: que cheiro é este? Que fedor é este que nos sufoca sem piedade? E caíam, inertes. Curiosamente, o que para uns era asfixiante, para outros foi o oxigénio que lhes permitiu (re)viver. E essa brisa-perfume foi imortalizada. A que cheirava? Cheirava a cravos...

Férias

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Hoje é o dia de mãe e filha. As duas, acolitadas pelo cão que naturalmente demonstra o seu regozijo por ter finalmente companhia fazendo asneiritas para chamar a nossa atenção. Estamos as duas em modo de escrita, a Sofia e escrever as suas "ficções" e eu a debitar as minhas realidades depois de encher o blogue de flores para lhe dar um ar mais primaveril. Sem "estamos atrasadas", sem lanches nem trabalhos de casa para fazer (ela) ou para corrigir (eu). A usufruir daquele momento em que parece que as férias vão durar muito tempo. E no que depender de mim, muito ou pouco serão bem aproveitadas. Mesmo tendo acordado a fungar e esteja entupida de anti-estamínicos.

Sísifo

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Recomeça.... Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças... Miguel Torga O que é que isto tem a ver com a imagem? Nada. E daí...

Em modo de Catarina Eufémia...

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  Os políticos portam-se como filhos rebeldes da democracia. Dela querem os benefícios mas furtam-se às obrigações. 40 anos depois de Abril é tempo de se sair da adolescência tardia em que civicamente se vive. As coisas não são assim porque é a vida. A vida e as coisas serão o que dela fizermos todos. Todos somos Portugueses. A AR deve ser um espelho real, e não uma distorção de uma amálgama de filhos família que do povo só querem o voto e que se do povo vieram há muito o esqueceram.

Memórias

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Acabado o curso foi tempo de casar e um ano depois nascia a minha filha mais velha. Numa altura em que as minhas amigas faziam mestrados, eu preparava aulas, arrumava a casa, pensava no jantar, na roupa para passar, mudava fraldas, fazia pa pas e biberões, adormecia de exaustão às dez e pico, acordava às duas, acordava às cinco, levantava-me às seis a sentir que tinha sido atropelada por um camião de cansaços. Não havia tempo nem disposição para aquilo que antes eram as minhas rotinas: ler, estudar, aprender... A própria capacidade de pensar parecia turvada. Estou a "emburrecer", pensava. Quando me perguntavam pelo mestrado, fazia um meio sorriso. O primeiro livro que li depois da travessia foi um bálsamo e uma surpresa. Afinal ainda conseguia ler. E apaixonar-me pelo que lia. Sem acreditar sequer que algum dia voltasse a ser eu. Aquela eu. E contudo desde as histórias às cantigas, ao bolo feito a duas ao sábado, aos jogos, ao "vamos pintar no terraço

Gosto de...

Gosto particularmente das pessoas humanas. E das sinceras, mas sem serem abrutalhadas. Das meigas. Seguras. Das que dizem palavras como quem recita, e têm voz bonita e olhos que brilham. Das pessoas que são luz e boa energia ou das que, can sadas, são colo morno. E também gosto das pessoas que não gostando não se dão ao trabalho de fingir que gostam. Gosto de pessoas sem máscara, mas também sabe bem ver as múltiplas pessoas que cada pessoa é. Gosto sobretudo de sentir que ainda gosto das pessoas, de as conhecer ou de reconhecê-las. E ainda gosto daqueles que têm o dom de transmitir felicidade aos outros, em vez de a consumirem. (também gosto de azeitonas e pão com manteiga, mas aqui não se enquadra... - não liguem, eu já estou a sonhar!
Quando era aluna havia três expressões que nos faziam correr. A primeira era "PORRADA" (ainda hoje por hábito é assim, uns correm em direção ao local do acontecimento, outros fogem do dito, raros ficam indiferentes). Depois havia o "FURO" ou "AULA LIVREEEEEE" coisas que as substituições mataram, com a necessidade de manter os alunos dentro da sala de aula como se estar fechado num local com muitos livros os levasse a assimilar conteúdos assim como que por osmose. Por isso deixaram de passear pela escola, de conversar com os amigos, brincar à carica, à "mãezinha dá licença", ao "um,dois, três macaquinho chinês". Também deixamos de ver as bibliotecas cheias de alunos. Não há tempo para ir para a biblioteca. Por isso, quando hoje os alunos me perguntaram: pode ser aula livre? Eu pensei que eles não sabem mesmo o que era gritar "aula liiiiiiiivre". Sem ter que fugir da professora das substituições.

Oh captain my captain

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Foi na penúltima aula do 11º ano. Estavam agitados, pareciam-me agarrados ao telemóvel, meio ventoinhas.Tive que lhes dizer que não os reconhecia, que parecia que tinham regredido no tempo, que havia um programa a cumprir, o último período é pouco mais de um mês por isso tinha que dar aula. Continuei a estranhar, mas pareceram acalmar um pouco. São uma turma muito grande, fruto da junção de duas turmas, e naquela aula o olhar perde-se sala dentro, até à parede do fundo. Entretanto lá terminamos a aula. Arrumem as coisas, chega de História por este período. "Vitória, vitória acabou-se a história" (sim, eu digo umas coisas meio disparatadas). Fez-se um silêncio estranho. Daqueles silêncios que na natureza antecedem as tempestades. De súbito, levantaram-se todos, e quando dei conta estava a olhar para cima. Rodeada por alunos em cima das mesas. E em coro ecoou na sala um "Oh captain my captain" com que me brindaram. A cena de um dos filmes da minha vida,
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E depois surgem aqueles momentos que sabemos que ficarão na nossa memória para a vida. Como hoje. Obrigada 11.C pelo surpreendente final de aula. Ao fim de 20 anos ainda tenho quem me deixe de boca aberta! E a olhar para cima. Porque a vida tem mesmo que ser vista de todos as perspetivas! Estão aqui:♥