Faz hoje 4 meses. Dia em que Cesária partiu. Chegava eu a casa, de outro funeral. Nesse dia, dei comigo a olhar para ele. É das poucas alturas em que ficamos longe um do outro e o vejo à distância. Eu atrás. Ele à frente, a marcar passo, pegando na urna. À espera que a cerimónia prossiga. Volta a pegar. Pensa-se em tanta coisa nesses intervalos. Sobretudo recordações. E no meio das lembranças veio a imagem já com 3 anos, de um padre a falar sobre ramos de árvores que apodreciam, e que tinham que ser retirados para que a árvore ficasse mais bonita. E da vontade que eu tive de sair de onde estava ( na zona das mulheres), e de mandar calar o homem que de certeza não conhecia minimamente aquele que partira. E o aperto no coração ao ver aquele metro e oitenta de homem feito, ali encostado a uma parede do altar ( na zona dos homens), de rosto angustiadamente inexpressivo, com as lágrimas a correrem cara abaixo. Quando um pai parte, somos todos meninos órfãos, pensei. Mesmo tendo a felicidade de rever olhares, maneiras de ser e de falar nos descendentes que de certa forma perpetuam os que se ausentam. Choramos a morte dos que partem, mas choramos sobretudo a saudade que deles fica.
E agora para desanuviar, um dia destes disse-lhe eu " sabes, quando eu morrer gostava de ser colocada por baixo de uma figueira, daquelas que dão figos em Setembro. E depois, dava para vocês ficarem ali, à sombra da figueira..." ( coisas de quem cresceu numa casa com grande quintal, e que tem como um dos cheiros da sua infância o das figueiras). " Está bem".- respondeu-me. Retorqui que não dava, quintais acima, saúde pública abaixo, blá, blá, blá... E diz-me ele, da forma pragmática como resolve as minhas dúvidas existenciais em duas penadas: "Mas tu ainda não percebeste que eu não te vou pôr debaixo de uma figueira? Eu vou é por-te uma figueira em cima". :) Deve (só pode) ser amor... Bem, e a figueira pode esperar!

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