No domingo de Páscoa acordava-se cedo. Para ir buscar o feno, que se colocava ao portão ( algumas pessoas juntavam flores, ou até só punham flores. Mas o feno tinha uma vantagem: ía secando, e no final do dia havia um cheiro adocicado nas ruas), o copo com água, o envelope para o padre...Sempre com o ouvido atento ao sino que anunciava o compasso. Com idas rua abaixo, para levar o folar à minha afilhada ( a partir dos 12 anos...), rua acima. Chegava o compasso, todos se juntavam. Todos não, faltava o meu pai. Que também andava na visita Pascal , e nem sempre fazia a rua onde morávamos ( a partir de certa altura, começaram a ter esse cuidado...). Depois vinha o almoço, as amêndoas, o pão-de-ló, feito em casa na forma de barro, os ovos cozidos com cascas de cebola, ou pintados por nós... O tempo passou. Ainda existe compasso, mas cada vez há menos pessoas a abrir a porta. Em contrapartida há aqueles que passando de carro, param e pedem para beijar a Cruz. Eu gosto de tradições, é certo. Mas acabo sempre por pensar no paradoxo que é beijar a Cruz com Jesus morto, ao som de cânticos à sua ressurreição. Se é de vida que se trata, não devia a Cruz estar vazia? ( Já para não falar do papel de Judas neste assunto todo. Parece-me que a minha opinião é pouco ortodoxa. A roçar a heresia. Logo, penso para dentro...) . Seja como for, o cristianismo tem muitas mensagens fantásticas, a de se poder sempre recomeçar é uma delas. Parece-me que quem souber/ conseguir renascer as vezes que forem precisas, nem terá essa obsessão pela ressurreição. E quem não apreciar esta vida, quer a outra para quê?

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