A propósito de um abril ainda por fazer

Fala-se do que falta cumprir de Abril. O MFA tinha os 3 d: descolonizar, desenvolver, democratizar. No primeiro, a descolonização foi um processo precipitado que trouxe mágoas de parte a parte. Foi o triste regresso dos nacionais, pejorativamente chamados " retornados", que perderam tudo, e tiveram que recomeçar do zero numa sociedade completamente retrógrada e num Portugal do passado. Eles, que vinham de um meio arejado nas ideias e na qualidade de vida. Ainda assim, foram com o seu espirito de iniciativa uma mais valia para um Portugal que certa forma também começava do zero. A solução federalista teria sido melhor? Não andamos anos a fio a agir para com as colónias como pais que, com sentimentos de culpa por não terem sabido educar os filhos, os vão ajudando depois, ao verem que se digladiam em guerras civis?
Mas se o processo de descolonização é questionável, já o fim da guerra foi o suspiro de alivio para muitas famílias.
Democratizar: temos uma constituição que consigna direitos fundamentais anteriormente privilégios de muito poucos. Temos o direito de voto, e uma taxa de abstenção eleitoral crescente. Não sei se o ter tira a atração que se sente quando se deseja o que não se tem. Entre a falta de figuras carismáticas e a inércia generalizada e acomodada ao " vamos andando, nunca pior", crescem os politicamente pilatos, que orgulhosamente proferem a sentença: "eu não os pus lá. Eu nem fui votar. " Temos direitos que desconhecemos, outros que não exercemos, somos políticos de bancada, cheios de opiniões...
Quanto ao desenvolver, muito passou pela UE. Que agora criticamos, mas que foi a amiga que emprestou mundos e fundos. E foi ver empresas a abrir e a falir, e dinheiros desviados, e o nível de vida a subir, sem suporte produtivo que garantisse a sua manutenção. Na hora do balanço o resultado é o que temos. Se calhar devemos apostar mais nas nossas ligações atlânticas. Se calhar a Europa unida tem que rever os seus princípios e clarificar procedimentos.
Mas Portugal tem que rever- se. Valorizar o mérito, o esforço, o trabalho. Dar espaço aos novos, mas não arrumar os velhos ( e em situações de desemprego, ter 40 anos é ser velho). Exigir que nos deixem trabalhar, reclamar maiores quotas de mercado, ser mais interventivo... É que a liberdade não vem num embrulho de fita cor de rosa. É um desafio construído com coragem ( coragem é agir com o coração) e com sentido de responsabilidade pelas irresponsabilidades que às vezes, em nome dela, se têm que cometer.
( as minhas afirmações carecem de fundamentação factual, são fruto de uma observação empírica e obviamente estão abertas a opiniões contraditórias que as questionem)!

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