Romaria de Nossa Senhora do Bom Despacho

Vivem-se cá pelo burgo as festividades em honra de Nossa Senhora do Bom Despacho. Advogada das causas difíceis, está sobretudo associada à fertilidade e aos bons partos, tendo a devoção das gentes do campo e também de pescadores. O culto a Nossa Senhora do Bom Despacho é muito antigo, havendo provas de que pelo em 1680 ele era já bastante activo em S. Miguel de Barreiros ( antigo nome dado à freguesia da Maia, que tem como patrono o Arcanjo S. Miguel).

Um curioso documento de 1733, subscrito pelo Pároco Luís de Oliveira Alvim, descreve-nos como, nesse ano, foram majestosas as festas em honra de Nossa Senhora do Bom Despacho. Eis alguns recortes:
“A Igreja ricamente se armou e se compuseram perfeitamente os Altares de Damascos. Fez-se à Senhora nove dias com todo o asseio novena de tarde, com sua prática, a Ladaínha e outras devotas orações, descarregando-se em todos os nove dias várias roqueiras de fogo [...]; no dia pela manhã esteve o Santíssimo Sacramento exposto no altar mor na mão da mesma Senhora do Bom Despacho como se tem feito muitas vezes, foi orador dos milagres e prodígios da dita Senhora o padre Mestre Pregador Frei Francisco Xavier Gramaxo da esclarecida Ordem do meu Seráfico São Francisco que pregou sermão de acção de graças com o seu costumado engenho e elevada erudição e de tarde estava preparado para fazer o mesmo, se não se temera o faltar tempo para se fazer a vistosa, asseada e custosa procissão [...]. Constava a dita procissão de nove bem vistosos e compostos andores; um era do Príncipe e Glorioso Arcanjo São Miguel padroeiro desta Igreja [...] era outro do glorioso São Roque [..] era outro que eu dei do meu seráfico São Francisco [...] O outro era do invicto mártir São Sebastião [...] outro era de Santa Bárbara [...] o outro era de Nossa Senhora do Bom Despacho que deu o reverendo Vicente Gramaxo [...] De fora era São Faustino padroeiro da Igreja e freguesia de Gueifães [...] Era outro da freguesia de São Tiago de Custóias o Menino Jesus [...] e era outro o padroeiro São Mamede da freguesia da Ermida de Infesta [...]”.
No domingo de Bom Despacho a regueifa era comprada na Festa, depois da missa. Havia procissão, algodão doce ou farturas, uma volta no carrossel...
Muitas foras as festas a que assisti e em que participei, como figurante na procissão ( para cumprimento de promessa e no grupo das meninas que tinham feito a Comunhão Solene), mas também nas marchas luminosas, que se organizaram durante alguns anos, onde participavam todas as freguesias que compõem o concelho e que se assemelhavam aos desfiles dos Santos Populares . Entretanto algumas tradições foram-se perdendo, enquanto outras surgiram- a Feira de Artesanato, por exemplo, implantou-se com sucesso. Seja como for, e apesar da crise, a festa parece este ano ter ganho novos romeiros, com alegria e boa disposição, mesmo que os vendedores acusem com descontentamento, que as carteiras andam mais vazias.



Comentários

  1. As romarias de outrora animavam a vida das vilas e aldeias. O ponto alto era a procissão (com os andores, os anjinhos e a banda de música) e a missa; depois havia as outras coisas. Preparava-se a festa com muita antecedência. Não havia grandes divertimentos durante o ano. Os tempos são outros, as festividades mantêm-se com alguns toques de modernismo.
    Lembro, com alguma saudade, esse tempo...

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