Abriu a época da caça...
o ar dela, a suspirar, à
segunda, depois de uma jornada de domingo à noite, dia de chacina.
Lembro-me sempre que falam da época de caça. Sim, eu já disparei uns
tiros com uma espingarda de pressão de ar. Ficou-me a doer o ombro, mas
até acertava nas latas. Latas. Por que carga de água há homens que se
vestem como se fossem para a guerra, agarram na espingarda, põem os cães
a dieta rigorosa, e vão dar tiros para o ar? Expliquem-me lá o fascínio
pela caça. É que em vez de pombos e lebres, podiam fazer tiro aos
pratos, sempre era mais ecológico...Ela queixava-se. Ele chegava ao fim do dia,
carregado de bichos que ela tinha que preparar. Bichos cheios de
chumbos. Havia que depenar o que tinha penas, tirar a pele aos outros,
dar a vizinhas ou encher a arca, porque ele levaria a mal que deitasse
fora. Ela odiava. Ele adorava. Sentia-se o verdadeiro Homem, espingarda
certeira, trazendo os troféus para casa. Já lá vão uns anos.
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