O outro lado

Ontem despertaram-se-me os demónios. E isso inquietou-me. Pensei que me teria tornado melhor pessoa, que tivesse ultrapassado certas coisas que me magoaram no passado. Mas não, pelos vistos elas estão apenas adormecidas, prontas a acordar a qualquer momento. Preferia conseguir fingir que gosto de quem não gosto, mas repugna-me fingir, como me repugna ver a hipocrisia alheia. E depois, chega este texto e dou comigo a pensar que ser humano é mesmo isto. Amar muito, a quem merece. Mas saber separar as águas. E não ter medo de não dizer que não. Que não se gosta. Sem máscaras, nem subterfúgios, nem rodeios.
"Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demónios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu acaso, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia. (...) As coisas muito boas e as coisas muito ruins exigem explicação. Coisas mais ou menos estão explicadas por si mesmas.
Não gosto de nada que é raso, de água pela canela. Ou mergulho até encontrar o reino submerso de Atlântida, ou fico à margem, espiando de fora. Não consigo gostar mais ou menos das pessoas, e não quero essa condescendência comigo também."
Martha Medeiros

Comentários

Mensagens populares deste blogue

As Escolas do Meu Coração- O Cerco do Porto

No meu tempo...