Vai-te embora tosse

Cada vez que tosses (e essa tosse é tão funda, feia, parece que quer rebentar os tímpanos, arranhar a tua garganta e a minha alma), estremeço. Tudo por causa de todas as tosses que ecoam na minha memória. Das noites em que só conseguias dormir com a cabeça sobre minha barriga, e ficávamos as duas encostadas, meio sentadas, a descansar os olhos. Das infindáveis nebulizações, dos pulmicorts, ventilans, das gotas do celestone ou do rosilan. Dos seis medicamentos tomados ao pequeno almoço. De te subornar com um bocadinho de chocolate, ou com uma azeitona, para tomares aquelas coisas todas... De me dizerem que tu, que andavas aos saltos pelo corredor da urgência, tinhas dois terços do pulmão direito apagado. E que tinhas que pôr um dreno. E que afinal havia septos a impedir a saída do líquido. E, e, tantos is. Que passaram, e voltaram, que a tua história passa-se à volta de coisas "súbitas", "exuberantes" e "atípicas". Felizmente, de tudo ficaram depois as boas recordações. Mas a verdade é que cada vez que tosses, é a primeira tosse, a outra tosse, todas as tosses que voltam a assustar-me como da primeira vez. Por isso, vou ver se meto uma cunha ao São Brás- cujos rebuçados já cá cantam, a par dos puffs do costume (no já velhinho aerochamber), e dos sprays, e do antipirético, e do leite quente, a ver se a tosse vai embora. Fica boa, Princesa!

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