Aldeias

Eu não presto atenção nenhuma à publicidade. Zero. Exceto ao "all together now" da otimus que me faz ficar parada, a olhar para o écran. É a aldeia, como eu imagino as aldeias. Com velhinhas que têm rugas, cabelos brancos, se calhar mãos ásperas, habituadas à geada, ao calor, à água do tanque público, à meada da lã que se doba para depois a transformar numa camisola ou numas meias, cheirando a cozinhados, a sabão azul e a lareira, redondas e apenas aparentemente frágeis, como oliveiras milenares, bem dispostas, prontas a bailar e a cantar recordando outros tempos. De abraços apertados e beijos que fazem barulho, em vez de meros encostos de rosto inventados pelas senhoras da cidade. Estas velhinhas estão a desaparecer. Na sociedade que faz a apologia da juventude, onde todos tentam evidenciar uma idade aquém da cronológica, as pessoas permanecem visualmente jovens por muito mais tempo, por todo o tempo. E isso é justo, legítimo e digno de louvor. Mas o reverso da medalha é o fim dessas avós à antiga. E quem fala das avós fala das tias que não casavam para ficarem junto dos pais e ajudavam a criar os sobrinhos. Ficar "para tia" era uma opção cheia de responsabilidades e ocupações. O que seria de muitas crianças na altura sem a sua ajuda preciosa?
Enfim, tudo a propósito de um anúncio publicitário... E eu que pensava que já não conseguia escrever!

Comentários

  1. As aldeias são recantos de Portugal repletos de "estórias". Eram (e digo eram, porque hoje são diferentes) locais verdadeiros e sãos, onde se tinha sempre a porta aberta. As crianças brincavam livremente pelas ruas e, ... tudo parecia mais feliz. Tenho saudades da minha aldeia, das gentes, dos cheiros, das tradições... e, do tempo que parecia não acabar.

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