Parabéns, Sr.Lúcio

O aviso do telemóvel que está sobre o móvel da entrada tocou. Era um lembrete. Uma palavra: Pai. Hoje o meu sogro faria anos. Foi das pessoas mais fantásticas que conheci. Sabia cativar pela forma como falava, era um baú de histórias contadas com humor mas também com um rigor surpreendente. Referia as datas, os preços das coisas, os nomes, numa memória invejável. Não tinha feitio fácil, dizem, mas porque sempre o senti do meu lado, nunca tive razões de queixa. Tenho saudades de o ouvir, das vezes em que tocava guitarra e cantava canções, às vezes um bocadinho brejeiras (interrompendo a canção, para me dizer "desculpe Paulinha, mas a letra é mesmo assim"), do seu cumprimento sempre igual " então conte lá como foi", das suas criticas mordazes (à publicidade televisiva, aos políticos, às pessoas em geral), da facilidade com que arranjava alcunhas para tudo e todos.Tinha bom ouvido, tocava qualquer instrumento, versejava naturalmente, de tudo fazia versos. A sua aldeia, as vindimas, discussões, visitas de familiares, vitórias do Porto, o seu clube, por quem chegou a torcer solitariamente, num café repleto de benfiquistas. Amava a terra e o campo, particularmente os Castelares, a que chamava " a terra dos meus olhares". Sabia ser autoridade, era amigo dos livros e da História. Era um avô atento, que espevitava, perguntava, ensinava e fascinava. Muito do Pai está no Filho, quer fisionomicamente quer na maneira de ser. Mas isto das pessoas se tornarem estrelas sabe mesmo a pouco.

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