I teach

 
Ouvi alguém dizer por aí que um professor deve ser profissional e que a partir do momento em que surgem os afetos perde-se a objetividade e deixam de separar-se as águas. Tudo bem que professor é professor e aluno é aluno, mesmo que muitas vezes seja eu quem está do lado dos que aprendem. Aprendo muito com os meus alunos. Com o que eles sabem, com os desafios que me lançam quando não querem saber o que tenho que lhes ensinar, com o que que me ensinam a ser (e a não ser também). E gosto deles e do que faço, mesmo quando sinto que precisava de mais tempo para ler outros livros, procurar mais vídeos, cuscar aquelas curiosidades que permitem aguçar o interesse deles para procurarem o conhecimento pelos próprios meios. Gosto deles e não sou de disfarçar. Ralho se tiver que o fazer, elogio sempre que posso. Não lhes ponho a fasquia demasiadamente elevada, mas também gosto de lhes tirar o tapete e de os ver a improvisar, e criar, a largar a navegação segura, agarrada à repetição, para se arriscarem a pensar pela sua própria cabeça. Rio quando me apetece. Rio quando dizem coisas engraçadas. E parte das vezes eles riem da falta de graça das minhas tentativas de piadas. Nunca fui capaz de cumprir aquele princípio do "os alunos não me vêm os dentes até ao Natal". Eles iriam notar que era falso da minha parte. E eu ia ter uma tremenda vontade de rir de mim mesma. Já tive dissabores por isso. Se fosse mais impositiva cansava-me menos. Se não pensasse que me pagam para os ensinar a todos, se não pensasse que debitar conteúdos a contrarrelógio pode ajudar-me a cumprir o programa mas é inútil se do outro lado não aprenderem nada, se calhar aborrecia-me menos. Já senti que por vezes fui eu quem permitiu certas coisas, porque lhes dei margem para isso. Não tenho vocação militar, o que não significa que não goste de ordem. O silêncio oprimido inquieta-me tanto quanto a indisciplina absoluta. Gosto de os ver a tentar responder, mesmo desordenadamente. De os ver de folhas na mão antes do teste. Surpreende-me que façam as perguntas mais variadas como se achassem que eu sou alguma enciclopédia. Claro que volta e meia me sinto perdida, mas vou corrigindo a rota. Ser amiga dos alunos não é objetivo. Mas isso não implica que não possa gostar deles. Serei menos profissional por isso? Não sei. Mas em abono da verdade, isso de ser profissional se calhar é subjetivo. Dizia o Mec que temos a vocação trocada com a profissão. No meu caso coincidem. E enquanto assim for fico. Por mim e por eles. Afinal foi por eles que eu me alistei!;)

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