Memórias

 
Tive a sorte de durante 5 anos ser a sobrinha em regime de exclusividade de 4 tios fantásticos. O mais velho era o mais intelectual! Foi com ele que conheci o Asterix ( eu ainda não sabia sequer ler) e a Mafalda,com quem aprendi palavras difíceis, mais tarde foi através dele que conheci Mia Couto ou Pepetela. Já na adolescência ficaram na memória umas férias em que assentamos arraiais em Vila Flor, e não houve castelo, vila ou monumento nos arredores que nos escapasse, devidamente enquadrados pelas estórias da História retiradas de um livrinho de capa verde. A seguir vinha o tio hiperativo e bem disposto. Desportista, muito bem humorado, era difícil chorar ao seu lado pois levava-me das lágrimas ao riso em segundos. Sabia montes de lengalengas ( do tipo " era uma vez uma vaca chamada vitória...", a do gato que tocava piano e falava francês, ou a rajada de perguntas " tens fome? Tens sede? Tens frio? Com as respostas respetivas), estava sempre a inventar coisas novas para fazer... Lembro-me sempre de quando podaram um arbusto com a forma de uma cadeira, e tunga: sentaram-me no trono! É claro que me fartei de guinchar, a afundar-me ( e a arranhar as pernas todas) no meio dos ramos e folhas. É das pessoas mais criativas que conheço, daquela inteligência prática, que resolve problemas de imediato. Foi a primeira pessoa a dizer que as filas dos autocarros se faziam ao contrário. E uns anos depois, lá se alterou efectivamente a direçao da fila do autocarro. Virada para ele. Não de costas.Depois vinha a minha tia. A quem ainda hoje chamo mais-que-tia. Levava-me ao cinema ( o Bernardo e Bianca ficou na memória), deixava-me beber coca-cola, tinha sempre carimbos fantásticos com desenhos e letras, que eu adorava colorir, e tinha uma paciência de santa para me aturar. Era a tia das coisas boas, que comprava os livros de banda desenhada ( o tio patinhas, a turma da Mónica , o cebolinha, a luluzinha...), que fazia bolos e rissóis. A tia que me levava ao Porto e me deixava beber coca cola. Que me levava à escola dela, para conhecer os seus meninos. O meu tio mais novo é provavelmente aquele com quem interagia menos. Lembro-me dele já contava com a companhia da minha irmã e dos primos que entretanto nasceram. O " vou-te esmagrecer", que era um xi coração daqueles que até estremecem os órgãos internos, os croks, o "passou bem" a rilhar os ossinhos das mãos... A tentativa frustrada de tentar que eu aprendesse a andar de patins. Ou os compais de pêssego que me pagava no café. Todos diferentes, cada um à sua maneira contribuíram para alargar o meu conhecimento do mundo e acima de tudo para dar um colorido mais rico à minha infância.

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