Um dia destes no autocarro, diz-me uma idosa:
- Quando os filhos são pequenos, nós explicamos as coisas, quando ficamos velhos eles explicam-nos a nós. O meu filho quando pode, vai comigo. Se não pode, explica-me: vais por aqui, viras ali...
Sorri. A consciência das coisas demonstrava que não estava tão velha assim.
Entretanto chega outra senhora, senta-se ao seu lado. As duas de frente para mim. De um momento para o outro entra na conversa. Já tinha dado uma série de voltas no Dragão, logo de manhã, para fazer exercício. Retorquia a primeira "mas os joelhos não me deixam. Até já fui operada". Resposta pronta, "eu também fui operada! Onze vezes! (olhar convincente, como quem vinca a vitória, diante do encolher de ombros da primeira) E estou aqui! E a minha irmã que só tem 71 anos já anda aflita da coluna!"
Dei comigo a pensar nestas duas idosas, desejosas de conversar, de terem atenção, de contarem a sua história. Estamos mesmo na era da solidão acompanhada.

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