Quando a idade deixa de ser um posto

É facil falar de ser idoso quando temos como referência idosos independentes, intelectualmente ativos, com autonomia na gestão do dia-a-dia que necessitam apenas de ajudas pontuais. Mas que dizer dos outros idosos? Dos que estão acamados, dependentes de terceiros para tudo, daqueles que, com princípios de demência, obrigam a um acompanhamento permanente, com atitudes que os põem em perigo? Idosos que necessitam de um apoio multidisciplinar, da enfermagem à psicologia, passando pela fisioterapia, por atividades de estímulo... Ninguém pensa em deixar um filho de um ano sozinho em casa, para ir trabalhar, e beneficiar de umas horas de redução por ser cuidador deste, pois não? Um idoso dependente também não pode ser deixado em casa, pelo mesmo motivo. Muitos idosos desejam aquilo que confesso, eu desejo para mim. Morrer em casa. Na minha casa.( Sem apitos, nem fios, nem agulhas. Sem meninas a falarem-me como se eu fosse uma criança, a dizerem-me para me portar bem, ou a mandarem-me comer como se tivesse voltado à pré. Ou a amarrarem-me à cama para não deambular durante a noite.) A muitos esse direito de escolher onde viver até ao fim é-lhes retirado para sua proteção. Vão para lares de que não gostam, para prevenir acidentes. Previnem-se acidentes mas não se adia o fim, às vezes até se precipitam as coisas. Agora será que a casa dos familiares é melhor do que um lar? Dependerá de muitas coisas: da disponibilidade dos familiares (e refiro-me não só à tal disponibilidade de tempo mas também à disponibilidade mental das pessoas, que há que ter perfil - e coração, apropriado), do grau de necessidade e nível de dependência do idoso, da capacidade económica que acarreta contratar ajudas para cuidar do idoso e finalmente da vontade que o idoso tenha de estar com familiares.Ás vezes o lar pode ser mesmo a melhor opção, ou a mais razoável, e é-o para muitos que aí vivem durante anos, convivem, distraem-se, fazem atividades variadas e integram-se. Na verdade, hoje em dia há um grupo significativo de pessoas que trabalha muitas horas por dia, ainda está a cuidar dos filhos e não sabe como conseguir dar apoio (e qual o melhor apoio?) aos pais. A esses não me parece que haja regalias nem reduções de horários que lhes valham. Se calhar era tempo de pensar a sério na velhice. Ah, e não me venham com a treta de que nestes casos até que a eutanásia era uma boa opção, que as pessoas não podem nunca ser descartáveis.

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