Falamos de escravatura como uma coisa do passado ou de outras latitudes. Criticamos os que escravizavam, os que submetiam, os homens que compravam outros homens, achando que a cor da pele determinava a humanidade de cada um. Falamos da escravatura como sinal abjecto de uma civilização inferior.
Depois, decidimos vidas alheias como se fossem nossas. Podemos condenar os outros ao que não querem, mesmo que pensemos que é para o seu bem? Sujeitar à nossa vontade? Escravo é o que não é livre, ou o que não pode usufruir da sua liberdade, mesmo que a tenha? Escravo porque explorado, porque sobrecarregado, porque sugado até ao último sorriso, à última vontade, à derradeira esperança. Escravo porque desrespeitado na sua maneira de ser. Escravo porque apoucado por quem lhe diz que não se apouque. Escravo porque revoltado diante de outros escravos que se desfazem em sorrisos falsos. Escravo porque é a vida, escravo do trabalho, das modas, dos juízos alheios, dos medos, escravo dos outros e de si próprio.
É tão ténue a linha entre o ser e o sentir. E se me sinto escravo, é escravo que sou, mesmo que a lei e os outros achem que não.

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