A flexicoisa no ensino

Não é o como se quer ensinar que está em causa, mas o que se quer ensinar  e para que serve o que se ensina (o argumento "estudem isto porque sai no exame" prova a utilidade- ou falta dela- de muitas das aprendizagens exigidas) Como é que se faz flexibilização de currículo quando o currículo, extenso, se mantém, e o número de tempos semanais de uma disciplina como História, por exemplo, se resume a 45 minutos duas vezes por semana? Como é possível imaginar que um dia se faz trabalho de projeto e outro dia se interrompe o mesmo para se ensinar de outra maneira? Como é que se espera motivar turmas que não querem saber da escola para nada porque não reconhecem utilidade no que os obrigam a aprender, sem lhes dar um sentido novo às aprendizagens? Como se quer fazer aprender de forma diferente e avaliar do modo mais convencional possível, com aferições e exames?
O ensino precisa de uma revolução, mas uma coisa a sério, pensada,estruturada, não de mudanças desgarradas, com montes de alternativas que de novo não têm nada, e onde alunos e professores não passam de cobaias. Os pais têm direito a serem informados- será que foram? Os professores que alinhassem deviam fazê-lo voluntariamente - palavra de significado claro mas utilização ambígua em muitas paragens. E as orientações do ministério deveriam chegar clara e oportunamente.
Esta flexicoisa, assim, ameaça ser mais uma machadada no já tão frágil sistema de ensino. Os professores afinal ainda não foram suficientemente massacrados, está visto. E os alunos também não. 
Ensino humanista, desenvolvimento cívico, formação de um cidadão completo e interventivo? Ainda não será desta.
Mais de 20% das escolas vão poder escolher como ensinar os alunos http://www.publico.pt/2017/08/10/sociedade/noticia/flexibilidade-curricular-vai-ser-aplicada-em-21-da-rede-de-oferta-publica-de-ensino-1781884

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