Ela queixava-se. Ele chegava ao fim do dia, carregado de bichos que ela tinha que preparar. Bichos cheios de chumbos. Havia que depenar o que tinha penas, tirar a pele aos outros, dar a vizinhas ou encher a arca, porque ele levaria a mal que deitasse fora. Ela odiava. Ele adorava. Sentia-se o verdadeiro Homem, espingarda certeira, trazendo os troféus para casa. Já lá vão uns anos. Mas lembro-me do ar dela, a suspirar, à segunda, depois de uma jornada de domingo à noite, dia de chacina. Lembro-me sempre que falam da época de caça. Sim, eu já disparei uns tiros com uma espingarda de pressão de ar. Ficou-me a doer o ombro, mas até acertava nas latas. Latas. Porque carga de água há homens que se vestem como se fossem para a guerra, agarram na espingarda, põem os cães a dieta rigorosa, e vão dar tiros para o ar? Expliquem-me lá o fascínio pela caça. É que em vez de pombos e lebres, podiam fazer tiro aos pratos, sempre era mais ecológico...

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