A aldeia já não é o que era

Quando falei com a sua mãe (para que esta autorizasse ida da C. connosco), referi-me à aldeia como pacífica, sossegada, em clima típico de festa. Festa da aldeia. Chegamos à noite, mas ainda houve oportunidade para darem um passeio. É normal as pessoas estarem na rua, "ao fresco", e esse dia não era exceção. Também é costume "dar as boas horas", que é como quem diz, cumprimentar quem está na rua. Faz parte dos rituais. Mas com as alterações demográficas do sítio, também é frequente que as boas noite sejam unilaterais ou simplesmente fiquem esquecidas...Pois logo na primeira hora de estada na aldeia, a C. foi brindada com comentários pouco agradáveis e muito audíveis relativamente ao facto de ser pouco educada (ela e quem a acompanhava) pelo facto de só terem dado as boas noites quando cumprimentadas, e não antes. Isto de estar em casa e ouvir uma mulher em altos brados a dirigir-se aos nossos e a quem pela primeira vez estava de visita doeu-me. Não, elas não são netas do Presidente da República, como a referida criatura, que chamar-lhe senhora era excessivo, mas são netas de alguém que amava a aldeia com todo o seu coração, que sonhou a vida toda com o regresso. E merecem respeito. Que chamar mal educado aos altos brados e ofender os antepassados também não denota grande educação. Eu compreendo que foram muitos anos no estrangeiro, e que quando se regressa se espera reencontrar uma aldeia de há 30 ou 40 anos. Que lá no sitio de onde veio não se sentava com a família na rua, como um conjunto de cogumelos nascidos em dois degraus da escada, e provavelmente não andaria a cumprimentar desconhecidos na rua. (Se eu cumprimentasse todas as pessoas por quem passo, fora da aldeia, seria internada. Se ofendesse quem não cumprimentasse, também. E não preciso de sair do país para isso, basta-me sair da aldeia) Mas ali, naquele momento, ela foi a rainha da rua do Pelourinho. E resolveu armar-se em paladina da boa educação. Lembrei-me então das palavras daquele que amava a aldeia com todo o coração, mas que também conhecia a aldeia no seu lado bom e no outro: "se a estupidez fosse música, a aldeia era uma orquestra". Estas férias fiquei a conhecer uma candidata a voz principal dessa orquestra. E tem potencial, que quando a mulher fala, ouve-se na rua toda. Desculpa, C., não era esta a aldeia que eu gostava que conhecesses.

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