As Escolas do Meu Coração- Freamunde
O que foi que me fez, pela primeira vez, falar de uma escola como “a escola do meu coração”? Foram muitos anos a saltar de escola em escola, sabendo que em junho nos despedíamos e, em setembro (a correr bem), a saga dos mini-concursos levar-me-ia para outras paragens. Ter a ilusão de poder continuar mais um ano no mesmo local era agudizar a dor de uma separação que fazia parte do processo. Quando fiquei colocada nela, o meu marido levou-me a ver onde ficava. Basicamente no fim do mundo. No regresso fomos comemorar. Afinal, fora a primeira vez que ficara colocada na segunda fase, em final de agosto, e já não passava parte de setembro desempregada. Nessa altura não havia subsídio de desemprego para os professores, nem indemnizações por caducidade de contratos. Foi uma comemoração estranha, com lágrimas a pingar sobre o molho de francesinha. Nunca imaginaria que essa seria a primeira escola do meu coração. Com direito a transportes múltiplos para lá chegar até encontrar depois colegas fantásticos que me davam boleia, Agrela acima, Agrela abaixo, colegas que depois se tornaram amigas, confidentes, com quem partilhava conversas e silêncios (acho que os silêncios, aqueles silêncios conversados, só se conseguem com aqueles de quem se gosta mesmo muito). Foi a primeira escola onde trabalhei vários anos, onde fiz tanta atividade diferente (era o tempo do Estudo Acompanhado e da Área de Projeto, mas também das substituições que nos permitiram descobrir que cabiam 6 pessoas numa casa de banho) e onde ficaria de bom grado para sempre, não fora a saúde da minha mais nova pedir que arriscasse uma aproximação de casa. Foi a Escola Dr. Manuel Pinto Vasconcelos, em Freamunde. O meu último período de trabalho, foi passado de atestado. O único atestado prolongado em quase 30 anos de profissão. O facto de passar os dias no hospital, primeiro, e a ir ao hospital, depois, obrigou-me a perceber o que realmente importava e a aceitar a mudança como uma necessidade. O regresso à escola, mesmo na reta final das aulas, permitiu que me despedisse das turmas. Ficou-me na memória uma sonora salva de palmas com que fui recebida numa delas. O secretariado de exames ocupou-me o resto do tempo. Dizem que não se deve voltar ao lugar onde fomos felizes, e eu não voltei. Agosto trouxe-me outra escola, bem mais perto. Aconselharam-me a ter aulas de defesa pessoal, e diziam em tom de brincadeira que me iriam “subornar” com material de contrafação. Nem uma coisa nem outra. A primeira frase que me ficou da chegada à escola estava riscada na parede. “Nunca te esqueceremos, Telmo”. - pensei que tinha que descobrir quem fora o Telmo. Fui recebida com simpatia e, estranhamente, senti que conhecia aquele espaço e os novos colegas há muitos anos! Acabei por perceber que afinal no meu coração cabiam mais escolas. Estava no Cerco do Porto. A segunda das três escolas do meu coração. Mas quinze anos não cabem num parágrafo e este texto já vai longo. E afinal a minha intenção até era falar da terceira escola do meu coração. Enfim, fica para outra vez. Ou não. Logo se vê…
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