Cresci numa vila que podia parecer aldeia mas não o era. Tinha amigas que nas férias iam para os avós da aldeia. Eu, que vivia na mesma casa que uns avós e tinha os outros avós a menos de cinco minutos, pensava como seria bom ir para a aldeia. Ter uma aldeia, ser de uma aldeia. Quis o destino que a aldeia de Água Revés aparecesse na minha vida. O gosto pela aldeia deve ter sido algo genético- o meu sogro sonhava com o regresso à aldeia depois de uma vida feita de idas e regressos temporários, que passou de pais para filho e para as netas. E se calhar às vezes a genética e o coração conjugam-se, porque eu aprendi a gostar muito da paz, da natureza em estado puro, das pessoas que nem sequer nos conhecem bem e contudo são simpáticas e generosas, das surpresas escondidas em cada ida ao campo, como se houvesse sempre novidades à espera, do cheiro da aldeia, do ar que parece inchar os pulmões, do céu cheio de estrelas, do frio que enregela, do calor de fazer inveja a Mefistófeles. Ir à aldeia sabe a regresso. À memória dos avós que já tendo partido ali nos parecem mais perto, mas também a um regresso a nós os quatro ( ou cinco...), como família. Parece que ali nos olhamos mais, conversamos mais, não há muitas televisões e por isso vemos todos a mesma coisa, aquecidos pela lareira, com a consciência de que estes momentos,como todos, serão temporários. Mas talvez possamos ser, um dia, aqueles avós com quem os netos vão passar férias na aldeia...

Comentários

  1. A aldeia transporta-nos às memórias de infância: cheiros, sabores, ruídos, tradições e saudade. Todos deveriam ter a "sua" aldeia; tenho excelentes recordações da vida que lá vivi. Tudo é próximo e distante ao mesmo tempo. Tempo que parece não querer passar e, que une as pessoas em torno de coisas simples.

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  2. Sempre que, quando vou a caminho, vejo uma placa a indicar "Justes" lembro-me de ti. É a tua aldeia, não é?

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